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Orixá Exu

Orixá Exu

 

Orixá Exu

Fundamentação do Mistério Exu na Umbanda

Em 1995 tive a oportunidade de ler algo novo para a Religião de Um­banda, uma obra psicografada, O Cavaleiro da Estrela Guia. A identifi­cação foi tamanha que procurei os outros títulos do autor Rubens Saraceni. Então, me chegou às mãos o título O Guardião da Meia Noite, um romance que em poucas palavras, de uma forma agradável e envolvente, nos esclarece sobre quem são as entidades que se apresentam como Exu na Umbanda, que são Guar­diões e protetores da Reli­gião e de seus adeptos. A publicação deste livro (N. da R.: Orixá Exu) é um marco dentro da literatura umbandista, não ape­nas por ter aberto para a re­ligião o campo da obra psi­cografada, até então pouco ou quase nada aproveitado, mas por trazer para o adepto o escla­recimento necessário e a segu­rança para trabalhar com seu “Guardião da Lei” na Umbanda, e para o não adepto, a des­mis­tificação da entidade Exu. Logo, O Guardião da Meia Noite se tor­nou a obra mais lida da litera­tura umbandista.

Rubens Saraceni não parou mais, pu­blicou toda uma série de livros sobre os Guardiões da Umbanda (Os Guar­diões da Lei Divina, O Guardião da Séti­ma Passagem, Guardião das Sete En­cru­zilhadas, O Guardião da Pedra de Fogo, O Guardião das Sete Cruzes, O Guar­dião do Fogo Divino, O Guardião dos Caminhos, Os Guardiões dos Sete Por­tais e Guardião Sete) livros que mostram toda uma realida­de vivida por estas entida­des na Umbanda e no as­tral.

Em 1996, mais uma vez inovando, Rubens Sarace­ni criou um curso livre cha­mado “Teologia de Umban­da Sagrada”, no qual todo um conhe­cimento sobre o Orixá Exu começou a ser apre­sentado.

Aprendemos que, assim como Deus tem nomes diferentes nas di­versas culturas, divinda­des assumem nomes e formas diferentes. O que se mantém é a essência de cada uma, facil­mente identificada por suas qualidades. Assim, Exu é identificado em outras culturas como Elegbará (gêge), Aluvaiá (banto), Bes e Min (egípcia), Pã e Hermes (gre­ga), Savitri e Shiva (hindu), Kanamara Matsuri (japonesa), entre outros. Também nessa épo­ca, uma das apostilas deste curso, foi organi­zada e publicada com o nome de Livro de Exu: O Mistério Revelado, no qual é apresentada a re­lação do médium com seu Exu de Trabalho, Exu Guardião e Exu Natural. O Orixá Exu se revela como o Trono da Vitali­dade.

Quando pensamos que muito já havia sido revelado, então o autor, ou melhor, o revelador, nos traz mais uma revelação: a questão dos “fatores” de Deus. Cada fator corres­ponde a uma ação na criação, cada ação a um verbo e a uma Divindade, Orixá, correspondente. Em duas obras, Tratado Geral de Umbanda e Lendas da Criação, foram apresentados os “Fatores dos Orixás”, Nelas aparecem os fatores de Exu, ou seja, as ações que Exu desempenha na criação. Apenas para se ter uma idéia do que estamos falando, cito os fatores de Exu com a letra A: Abacinador, Abafador, Abirritoador, Achador, Acontecedor, Acornador, Acunheador, Adiantador, Agarrador, Agostador, Alabirintador, Aluidor, Amontoador, Anavalhador, Antevedor, Argolador, Arpoador, Arran­jador, Arrastador, Arrepiador, Arrui­nador, Assustador, Atalhador, Atinador, Atrofiador e Avisador.

Em Lendas da Criação aparece um trio que “rouba a cena” (Orixá Exu, Orixá Pombagira e Orixá Exu Mirim). Ficamos encantados com a presença de Exu Mirim, praticamente inexistente na literatura umbandista. Tempos depois, fomos surpreendidos com o livro Orixá Exu Mirim, que esclarece e fundamenta teologicamente o Mistério Exu Mirim na Umbanda.

Prefácio escrito por ALEXANDRE CUMINO

para o livro

“Orixá Exu” de Rubens Saraceni, Editora Madras.

Exu Vazio Absoluto e Oxalá Espaço Infinito

Muitos tem Exu como o primeiro Orixá gerado, que, por isso, tem a primazia no culto.

Essa primazia se justifica se en­ten­dermos a criação como um en­cadeamento de ações divinas desti­nadas à criação do Universo e dos meios para que os seres pudessem evoluir.

Nós aprendemos que dois cor­pos não ocupam o mesmo “espaço” e, à partir daí, deduzimos que, para haver o espaço, tinha que haver algo em outro estado que permitiu a criação de uma base estável para que, aí sim, tudo pudesse ser criado. Esse estado é o de “vazio”, pois, só não havendo nada dentro dele, algo poderia ser criado e concretizado, mas como outro estado. Então, unindo o primeiro Orixá (Exu) e o primeiro estado da criação (o vazio absoluto), temos a fundamen­tação do Mistério Exu.

O Mistério Exu é em si o “vazio abso­luto” existente no exterior de Deus e guarda-o em si, dando-lhe a existência e sustentação para que, a partir desse estado, tudo o que é cria­do tenha seu lugar na criação.

Por ser Exu o guardião do vazio absoluto, e este ter sido o primeiro es­tado da criação manifestado por Deus, então Exu é, de fato, o primeiro Orixá manifestado por Ele.

Logo, Exu é o primeiro Orixá, o mais velho de todos, o primeiro a ser cultuado. Por ser e trazer em si o vazio absoluto, tem que ser invocado e oferendado em primeiro lugar e deve ser “despachado” de dentro do tem­plo e firmado no seu exterior para que um culto possa ser realizado, pois, se assim não for feito, a pre­sença de Exu dentro de­le implica a ausência de todos os outros Orixás, já que seu estado é o do “vazio absoluto”. Porque junto com o Orixá Exu vem o vazio absoluto, os seus interpretes religiosos deduziram corretamente que, nesse estado de vazio, não é possível fazermos nada.

Logo, a ato de invocar o Orixá Exu em primeiro lugar é correto, porque, antes de Olorum manifestar os outros Orixás, manifestou-o e criou o vazio absoluto à sua volta. O ato de oferendá-lo antes dos outros Orixás está fundamentado nessa sua primazia, pois não se oferenda primeiro ao segundo Orixá manifestado, e sim ao primeiro.

O ato de despachá-lo para fora do tem­plo fundamenta-se no fato de que, se ele está presente dentro do templo, com ele está o seu “vazio absoluto”, no qual nada existe. Então, é preciso des­pachá-lo e assentá-lo no exterior do tem­plo, para que outro estado se estabeleça e permita que tudo aconteça.

Avançando um pouco mais na inter­pretação das necessidades primordiais para que tudo pudesse ser “exteriorizado” por Deus, como no “vazio absoluto” (Exu) não havia como se sustentar em alguma coisa, eis que, após esse primeiro estado da criação, Olorum manifestou o seu segundo estado: o “estado do espaço”!

• O vazio absoluto

é a ausência de algo.

• O espaço é

a presença de um estado.

Deus criou o espaço “em cima” do vazio absoluto. Logo, se antes só havia o vazio absoluto, o espaço foi criado dentro dele, e, à medida que o espaço foi se ampliando, o vazio absoluto foi disten­dendo-se ao infinito para abrigá-lo e permitir-lhe ampliar-se cada vez mais, de acordo com as necessidades da mente criadora de Olorum.

Aqui, já entramos na genealogia (no nascimento) dos Orixás e em uma teo­gonia a partir dos estados da criação.

Esse segundo estado (o espaço) dentro o primeiro (o vazio absoluto) criou uma base que se amplia segundo as necessidades do Criador e começa a nos mostrar os Orixás como estados da criação, pois se Exu é o vazio abso­luto, o Orixá que é si o espaço se chama Oxalá.

Sim, Oxalá é o espaço infinito porque é capaz de conter todas as criações da mente divina do nosso Divino Criador.

Porém o que nos levou à conclusão de que Oxalá é em si o mistério do “espaço infinito”? Ora, o mito revela-nos que Olorum confiou-lhe a função de sair do seu interior e começar a criar os mundos e os seres que os habitariam.

Como algo só pode ser criado se houver um espaço onde possa ser “aco­mo­dado” e antes só havia o “vazio absoluto” à volta de Olorum, assim que Oxalá saiu (foi manifestado), com ele saiu seu estado (o espaço infinito), que se expandiu ao infinito dentro do vazio.

O espaço não é maior ou menor que o vazio, porque são estados, mas ambos são bem definidos:

• o vazio absoluto é o estado

de ausência de qualquer coisa (o vazio).

• o espaço infinito é o estado de presença de alguma coisa (a ocupação).

Como Olorum tem em si tudo, e tudo ocupa um lugar no espaço, então Oxalá, como estado preexistente em Olorum, já existia no seu interior. E, como a mente criadora de Olorum ocupa um espaço, este era Oxalá, pois foi a Oxalá que Ele confiou a missão de criar os mundos e povoá-los com os seres que seriam criados.

Logo, Oxalá traz em si esse estado de espaço infinito que pode abrigar nele tudo o que for criado pela mente de Olorum. Portanto, Oxalá também traz em si o poder criador, pois, se não o trou­xesse em si, não poderia da exis­tên­cia no espaço infinito ao que só exis­tia na mente criadora de Olorum.

O vazio absoluto é um estado e não algo mensurável. O espaço infinito, ain­da que não seja mensurável, é a exis­tência de algo. E, como se esse algo denominado “espaço infinito” se abriu e expandiu-se dentro do vazio abso­luto, criaram-se dois estados opostos complementares:

• O vazio absoluto

• O espaço infinito

Exu e Oxalá são ligados umbilical­mente por causa desses dois primeiros estados da criação. Exu é o vazio ex­terior de Olorum, e Oxalá, o seu espaço exteriorizado. Exu é a ausência, e Oxalá é a presença. Em Exu nada subsiste, e em Oxalá tudo adquire existência.

Exu, por ser o vazio absoluto, nada cria em si. Em Oxalá, por ele ser o espa­ço em si mesmo, tudo pode ser criado.

Exu e Oxalá são opostos-com­plementares porque sem a existência do vazio absoluto o espaço não poderia se expandir ao infinito. Como ambos são estados, não são antagônicos, pois onde um está presente, o outro está au­sente. O vazio absoluto é anterior ao espaço infinito. E, porque é anterior, Exu é o primeiro Orixá manifestado por Olorum e detém a primazia. E, se tudo preexistia em Olorum, ainda que não fosse internamente o Orixá mais velho é, no entanto, o primeiro a existir no seu exterior.

Texto extraído do livro “Orixá Exu” de Rubens Saraceni, Editora Madras.

Pai Rubens Saraceni.